Identificar uma predisposição hereditária ao câncer é uma oportunidade única para aprimorar tratamentos e direcionar ações preventivas para familiares em risco. Essa foi a reflexão trazida pela professora Patricia Ashton-Prolla, do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), durante um evento no INCA em celebração ao Dia Nacional de Combate ao Câncer 2024.
Em sua conferência intitulada “Oncogenética: importância da criação de uma linha de cuidado integral do paciente com câncer hereditário no SUS”, Ashton-Prolla destacou que até metade dos cânceres pode ser evitada com medidas preventivas, e que essa lógica é ainda mais aplicável aos casos hereditários. “Praticamente todos os cânceres hereditários poderiam ser prevenidos”, afirmou.
O Papel da Oncogenética no Controle do Câncer
Dados apresentados por Miguel Moreira, pesquisador do INCA, revelam que cerca de 10% dos casos de câncer no Brasil – aproximadamente 50 mil por ano – têm origem hereditária. Esses indivíduos apresentam um risco significativamente maior de desenvolver a doença, muitas vezes em idade precoce.
Ashton-Prolla ressaltou a importância de identificar familiares sem suscetibilidade ao câncer, mesmo quando há casos registrados na família. “Saber quem não herdou a alteração genética é fundamental, não apenas para essas pessoas, mas também para otimizar os recursos do sistema de saúde”, explicou.
O teste genético é uma ferramenta inicial essencial na identificação do câncer hereditário, mas, segundo a professora, é necessário ir além. Criar uma linha de cuidado integral no SUS, baseada em oncogenética, é uma estratégia que pode transformar o controle do câncer no Brasil.
Pesquisas Nacionais e o Contexto Brasileiro
Luiz Felipe Ribeiro Pinto, coordenador substituto de Pesquisa e Inovação do INCA, reforçou a importância de investir em pesquisas nacionais que considerem a diversidade genética brasileira. “Importar dados não nos oferece soluções reais”, afirmou.
O diretor-geral do INCA, Roberto Gil, também enfatizou o compromisso da instituição com o enfrentamento ao câncer hereditário. Ele destacou a necessidade de oferecer soluções que previnam o desenvolvimento do câncer em indivíduos geneticamente predispostos e, quando inevitável, garantir que a doença seja diagnosticada precocemente, quando é mais tratável.
Discussão e Perspectivas
Após a conferência, um debate aprofundou os desafios e as perspectivas para a oncogenética no Brasil. Mediado por Luiz Ribeiro Pinto, o painel contou com a participação de Miguel Moreira e da diretora substituta do Hospital do Câncer III, Maria Fernanda Barbosa.
O evento reforçou o papel do INCA como líder na construção de estratégias que promovam o controle do câncer hereditário no país, sempre alinhado à realidade e às necessidades da população brasileira.
fonte: INCA